MARIA DE JESUS ALVES
RESUMO
O presente trabalho tem a finalidade de apresentar uma abordagem histórica sobre ciência e conhecimento, perpassando desde o passado distante até o presente, apresentando a evolução, olhares e interpretações. Trata-se também de analisar as diferenças existentes entre ciência e conhecimento. Segundo Albert Keller (p. 41) “ciência” resume-se ao resultado do conhecimento científico, enquanto que a palavra “conhecimento” é empregada no uso corrente também para designar o resultado de um processo do conhecimento. Procura-se também tratar de algumas temáticas como: A rota para a ciência normal; O novo paradigma para a ciência; Desenvolvimento da concepção de conhecimento; e A produção do conhecimento como construção do objeto. Dessa forma elaborou-se o presente artigo com base nos referenciais teóricos de Albert Keller, Medawar, Taylor Coleridge, Paulo Freire, entre outros.
Palavras-chave: Abordagem, designar, paradigma e concepção.
INTRODUÇÃO: ANÁLISE HISTÓRICA DA CIÊNCIA E DO CONHECIMENTO
Na antiguidade remota, ou seja, num passado distante, ou mesmo nos dias atuais, há quem diga que ciência é conhecimento, esse conceito segundo Medawar (p. 13), “diz respeito a um tipo de conhecimento mais difícil de se obter”. A palavra “ciência” é empregada como designação geral para, de um lado, os procedimentos da ciência, e de outro a ciência como corpo substantivo do conhecimento.
Assim, baseando-se na concepção de Medawar (apud HARYLOR COLERIDGE) “ciência é a capacidade de se chegar a verdades universais e inevitáveis, a partir de fenômenos particulares e condizentes”, ele descreve essa linha de pensamento como “indutiva” e, por muito tempo, supôs-se que a indução seria o método característico da ciência.
Em síntese Bacon (p. 45) descreve que o programa é o objetivo da ciência, como realização de todas as coisas possíveis, fórmula que alguns consideram revigoradora e inspirada, e outros desanimadora e assustadora, cada um de acordo com seu temperamento. Mais tarde, em um fragmento pouco conhecido, Valerius Terminus,1734, se questiona sobre o fim do conhecimento e diz: “Para falar de maneira clara e honesta, isso representaria a descoberta de todas as operações e possibilidades”. [...] na ciência estamos, de fato, nos inteirando de nosso estado presente e de nosso possível estado futuro. O nome Bacon está tão associado à noção de que o propósito da ciência é assegurar poder sobre a natureza (“conhecimento humano e o poder que esse conhecimento confere”). Em seguida no seu prefácio de The Great Instauration (título conciso para todo o sistema filosófico de Bacon), ele escreveu:
Aconselharia todos em geral que levassem em consideração os fins genuínos e verdadeiros do conhecimento; e que não fizessem isso por satisfação própria, por controvérsias, ou desdém a outros. Nem mesmo em proveito próprio ou pela fama; nem pela glória ou autopromoção, e nem para fins igualmente distorcidos ou inferiores. Mas sim por mérito, por benefício da vida e por misericórdia: pois a cobiça pelo conhecimento, à queda dos homens; mas na misericórdia não há excesso. Nem homens, nem anjos correm perigo se agirem assim.
Paulo Freire na sua obra (a importância do ato de ler, 1982, p. 22) faz considerações a respeito do conhecimento, ele ressalta que se a teoria do conhecimento ou doutrina do conhecimento foi definida como a “ciência filosófica do conhecimento” (p. 39), então a partir dessa classificação na filosofia podemos esclarecer que seu objetivo é investigar se e como o conhecimento é determinante para o homem enquanto homem e em que consiste sua função para o homem, precisamente na medida em que é homem. Dessa forma, explicitamos o que significa para o âmbito da ciência essa propriedade que caracteriza o homem: sua abertura questionante em relação a tudo mostrada precisamente pela filosofia com seu âmbito de objetos irrestrito, enquanto um conhecimento adequado ao homem enquanto homem.
Assim, é possível propor a seguinte definição: a ciência não pode ser restrita a um âmbito parcial daquilo que deve ser conhecido, mas para a qual tudo deve ser questionado e investigado segundo a perspectiva do que isso significa para o homem enquanto homem.
Neste sentido pode-se definir conhecimento como a investigação acerca das condições do acontecimento verdadeiro, exigindo uma reflexão das mudanças ocorridas na sociedade do conhecimento, tendo como base o processo crescente segundo as regras da verdade.
Entretanto, fica claro que o resultado de todas essas dúvidas e dificuldades foi uma revolução historiográfica no estudo da ciência, embora essa revolução ainda esteja em seus primeiros estágios. Os historiadores da ciência, gradualmente e muitas vezes sem se aperceberem do que estão fazendo, começaram a colocar novas espécies de questões e a traçar linhas diferentes, frequentemente não-cumulativas, de desenvolvimento para a definição exata sobre ciência e conhecimento, pois sabe-se que elas possuem especificidade diferentes.
OLHAR ATUAL: ABORDAGEM LEGAL
Passando a uma análise da questão em nossos dias atuais, pode-se perceber que ainda existe inúmeras dúvidas referente a ciência e conhecimento, os dois termos ocupam espaços diferentes, e já se faz presente na atual discussão das questões sociais e sobretudo no âmbito da filosofia.
No limiar de uma era global, vislumbrando algo que já está presente, porém ainda duvidando suficientemente do passado para imaginarmos um futuro (SANTOS, 1987). O autor ressalta que necessita-se de alguns modelos e visões de homem, mundo e sociedade.
Segundo Hobsbawn (1997, p. 504) abordar a ciência e a tecnologia pela história não é toma-la como processo linear, um processo que tenha como referência, simplesmente, a cronologia dos acontecimentos e das transformações; é preciso tomar a história no seu movimento dos contrários, pois é este que permite mostrar por que é inegável que ciência e tecnologia transformaram nossas concepções da vida e do universo e de como revolucionaram as regras segundo as quais opera o intelecto.
No nosso século, tanto as ciências sociais quanto nas ciências físicas e naturais, a valorização da autonomia, da subjetividade, emergirá como eixo de um novo paradigma, integrando-se à imagem do objeto da ciência. Uma nova forma de se representar a relação entre sujeito e objeto, bem como entre indivíduo, natureza e sociedade, desenvolve como parte de transformações históricas de uma condição pós-moderna.
Lyotard (1979) ressalta que a ciência hoje não mais pretende um objeto unificador, seus discursos tornaram-se mais cautelosos ao afirmar suas verdades, ou, ainda mais radicalmente, renunciaram a estabelecer qualquer forma de verdade, ainda que provisória.
Desta forma, analisa-se que a idéia de autonomia hoje está presente em distintas ciências e disciplinas, o que implica também a autonomia do objeto. Não é só o sujeito que é autônomo em relação ao objeto, mas o próprio objeto se constrói. De fato, a situação que se configura hoje é que a introdução de novas tecnologias e o fracasso do projeto de igualdade social aumentaram, talvez como nunca, e globalmente as clivagens sociais.
A ROTA PARA A CIÊNCIA NORMAL
Por ser a ciência um bem social, é de se esperar que ela se preste a exercer influências relevantes sobre a sociedade e isso, de fato, acontece naturalmente. Em contrapartida, há de se esperar uma certa reciprocidade e, assim sendo, seria uma atitude ingênua. Pois segundo Freire Maia (1995, p. 49), defende-se, num sentido absoluto, a tese da neutralidade da ciência. A ciência, enquanto bem social, sofre influências várias para a sociedade, em especial de natureza política, econômica e cultural, e não poderia ser diferente.
Outro ponto a demonstrar é a importância do amadorismo para a ciência normal, relaciona-se ao clima ou ao ambiente em que se deflagraram as grandes revoluções científicas da era moderna. Muito mais do que a falência dos paradigmas, considerados por alguns agentes causais dos chamados períodos revolucionários.
Em meio a essa complexidade, pode-se ressaltar que a ciência é um processo complexo e comporta métodos que abrangem muito mais do que é apresentado. Entretanto, entende-se que a ciência normal apresenta-se aparentemente sem finalidade imediata, mas propicia os grandes avanços científicos testemunhados pela humanidade.
O NOVO PARADIGMA PARA A CIÊNCIA E O CONHECIMENTO
Do ponto de vista de mudança paradigmática é que em vários campos disciplinares, nas ciências Humanas, Sociais, Biológicas e Físicas, observa-se uma mesma tendência de redefinição: de discursos articulados em torno da idéia de verdade/objetividade e falsidade/subjetividade, para outros onde tais dicotomias não se colocam como definidor das relações entre sujeito e objeto. O objeto, seja ele a sociedade ou a natureza, não existe como a priori, objetivamente: ele é construído pelos sujeitos. O surgimento desse paradigma foi a evidência da crise do modelo cartesiano que marcou a constituição das formas de conhecimento da ciência moderna.
No entanto deve-se ressaltar que a influência desses novos paradigmas existente na ciência, constitui-se não só como elemento constituinte do conhecimento, mas enquanto questão política de subjetividade significou o desenvolvimento de maneiras de se pensar as relações sociais. As desigualdades passaram a ser vistas sob outra ótica, não como resultado de determinações unívocas e universais, mas de relações que podem passar por múltiplos critérios e determinantes, os quais devem ser entendidos em seu significado contextual, histórico e cultural.
No ramo da ciência foi desenvolvida diversas concepções. A primeira, mais geral, é com a maneira porque se diferenciam e se inter-relacionam as diversas formas de conhecimento: o científico, o técnico, o ideológico e seu eixo social político. A segunda, mais específica, é com as condições de surgimento e desenvolvimento do conhecimento científico em países subdesenvolvidos, dos quais faz parte o Brasil.
Pensando assim defini-se que o problema do conhecimento deixa de ser examinado em sua complexidade social e epistemológica próprias, e passa a ser simples objeto de análise ideológica.
Simon (apud MARX, 1980) diz que as diversas formas de conhecimento não se desenvolvem no vácuo social, em função da simples acumulação de informações, conceitos e teorias.
Firmado nesta concepção de Marx, pode-se dizer que a união das questões relacionada a ciência, da universalidade e da ideologia entre si, só acontece se todas fizerem parte de um todo maior, a “política do conhecimento”.
A PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO COMO OBJETO
A produção do conhecimento tem sentido enquanto sua função de revelar a realidade na contradição, no contraponto aparência e essência e na tensão entre apresentação e conceito. Dito de outra forma por Koisk (2002, p. 18):
A produção do conhecimento se realiza como separação de fenômeno e essência, do que é secundário e do que é essencial, já que só através dessa separação se pode mostrar a sua coerência interna, e com isso, o caráter específico da coisa. Neste processo, o secundário não é deixado de lado como irreal ou menos social, mas revela seu caráter fenomênico ou secundário, mediante a demonstração de sua verdade na essência da coisa. Esta decomposição do todo como elemento constitutivo do conhecimento filosófico, com efeito, sem decomposição não há conhecimento, demonstra uma estrutura análoga a do agir humano: também ação se baseia na decomposição do todo.
Para Piaget (1975), todo conhecimento é representativo, no sentido amplo do termo (intelectual/operativo;imagético/figurativo), e todo conhecimento consiste em atribuir um significado, um sentido, aos objetos e aos conhecimentos.
Baseando-se nessas concepções citadas, pode-se admitir que já existe uma sólida base na produção do conhecimento como objeto.
CONCLUSÃO
Desse modo, conclui-se ressaltando, que a luta pela ciência e conhecimento se faz presente, ainda que não do jeito pretendido, ou seja, de modo que haja uma explicação mais precisa, respeitando as diversas singularidades. Pode-se notar que essa luta estende-se por muito tempo e se faz presente em um contínuo avanço.
De acordo com essa linha de pensamento, Bacon (Os limites da ciência, p. 47) acrescenta que o propósito da ciência é fazer do mundo um lugar melhor para se viver e, a “dignidade e a proficiência” da ciência dependem de sua capacidade de promover essa admirável ambição.
Nessa perspectiva, raciocina-se que isso acontece porque a ciência e o conhecimento, e como qualquer outro tipo de ocupação humana, procede somente numa base de confiança. Essa revelação provavelmente deixará alguns vazios que poderão ser preenchidos com alguma coisa original, ou, ao menos, verdadeira.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
FREIRE-MAIA, Newton (1995). A ciência por dentro. Editora Vozes Ltda., Petrópolis, RJ. Capítulo VI (A ciência e o meio social), item 1 (A ciência não é neutra), p. 128.
FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler. São Paulo: Cortez/Autores Associados, 1982, p. 22).
HOBSBAWN, Erik (1997). Era dos extremos: o bravo século XX – 1914, 1991. São Paulo: Companhia das Letras.
KOISK, K. Dialética do concreto. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1982.
KELLER, Albert. Teoria geral do conhecimento. São Paulo: Loyola.
LYOTARD, J. F. La condition posterioderne. Paris: ed. De Minuit, 1979.
ME DAWAR, P. B. Os limites da ciência. Trad. Antonio Carlos Bandouk. – São Paulo: Editora UNESP, 2008.
PIAGET, J. (1975). A formação do símbolo da criança. Rio de Janeiro: Difel.
SANTOS, B. de S. Um discurso sobre as ciências. Lisboa: Afrontamento, 1987.
SCHWARTZMAN, Simon. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1980.